Desde Maiorca…
Em pleno Mediterrâneo, Maiorca é a maior ilha do Arquipélago das Baleares, pertencente a Espanha. Há muito que andava na minha mente como destino de uma próxima estadia de férias. Aconteceu este ano, em família, de 19 a 24 de Julho. Já sabia que a presença humana nesta ilha, dada a sua localização, clima e fertilidade das suas terras baixas, era inevitável desde que os homens conseguiram deslocar-se com recurso a toda a espécie de embarcações. Por aqui passaram todas as civilizações mediterrânicas e muitas delas, com destaque para os romanos e muçulmanos, deixaram inúmeros vestígios patrimoniais.
Um aspecto da Praia de Peguera |
A nossa praia era óptima, em termos de tranquilidade (Peguera, a Oeste de Palma). A maior parte dos turistas falavam alemão, dir-se-ia uma estância balnear alemã, por excelência. Jornais, publicidade de rua, informações para turistas, tudo em alemão. O castelhano e o maiorquino às vezes nem como língua em 2.º destaque apareciam. A limpeza da água e da praia – com bandeira azul é claro – eram excelentes. Quanta à temperatura da água, magnífica. A paisagem em volta da praia também era muito bonita, fazendo dela quase um lago fechado, sem livre acesso ao mar. No mar próximo à praia, os peixes eram aos milhares (sem predadores humanos), para delícia dos turistas que lhe atiravam pão, para os verem dançar na luta por mais alimento.
Porque os nossos objectivos não eram só praia, mas conhecer a ilha, partimos à descoberta. Esplêndidas povoações, em que a pedra, como elemento construtivo é rainha. Algumas de difícil acesso nos nossos dias, imagine-se no passado (aliás, pelo que nos foi dado entender, a difícil acessibilidade era uma das tácticas utilizadas pelos residentes para se sentirem mais seguros, relativamente aos povos que vinham do mar, sobretudo os piratas).
Um dos túmulos da Catedral de Palma com o símbolo dos piratas bem visível |
Que os houve e até com papel de destaque na Ilha, provam-no diversos vestígios, entre os quais alguns túmulos no chão da própria catedral de Palma de Maiorca. Refira-se que a capital – onde nem falta uma imponente Avenida de Portugal – é a única cidade antiga, que do mar se acede de forma directa e fácil (apesar das imponentes muralhas que a protegiam, desde o passado medieval).
Avenida de Portugal em Palma de Maiorca |
Entre as seculares povoações em pedra, sobretudo na parte central e oeste da ilha, destacamos Andratx, Inca, Santa Maria, Valldemossa, Soller e Alcúdia, estas últimas três com os seus pequenos portos de mar, quase sempre de difícil acesso por terra, obrigando a serpentear, por estreitas estradas, as descidas íngremes até ao mar. Da paisagem, para além das composições em pedra que o Criador esculpiu, aparecem oliveiras milenares e outras árvores e culturas tipicamente mediterrânicas.
Alcúdia, a parte velha, dentro de muralhas está encerrada ao trânsito, mas toda a vida comercial que se anima “dentro de portas” casa bem com o rico património histórico e se volta para o turismo. A construção tradicional predomina em tudo o que a vista alcança: chão, paredes, casas, mansões (pertencentes a ricos proprietários da ilha) e igrejas. Entre os principais monumentos da histórica cidade refira-se o antigo teatro romano.
Uma das entradas de Alcúdia |
Soller é uma pequena cidade situada num vale coberto por laranjeiras e oliveiras. Com elegantes casas senhoriais, em estilo modernista, herança de uma época próspera devido à importância do seu centro comercial. Entre cidade e o seu porto de mar e praia circula um pequeno comboio, nesta altura, quase sempre sobrelotado. Na igreja matriz, em estilo neogótico, devotada a S. Bartolomeu, existe uma cópia muito boa do Santo Sudário de Turim, onde se explica: «esta tela é uma cópia do Santo Sudário de Turim. Segundo a tradição cristã e claras evidências científicas e históricas é o pano que utilizou José de Arimateia para amortalhar o corpo de nosso Senhor Jesus Cristo. Este quando ressuscitou emitiu tal energia que projectou a sua figura no tecido».
Cópia do Santo Sudário de Turim |
Valldemossa é outra localidade muito atractiva e que está em todos os roteiros turísticos da ilha. Um dos locais mais procurados da povoação é o conjunto monumental de La Cartuja, onde se hospedaram George Sand e Frederic Chopin, durante o inverno de 1838-1839, e que este último considerou o sítio mais bonito do mundo, onde não se importaria de terminar os seus dias. O piano de Chopin, cartas e retratos que narram a estadia do casal em Maiorca, estão conservados num pequeno museu. Estivemos em Valldemossa nas vésperas da festa da padroeira, Santa Catalina Thomas, que é natural dessa localidade e a sua imagem faz parte da memória iconográfica de cada rua, quase até de cada casa.
Santuário de Santa Catalina na casa onde nasceu em Valldemossa |
Trata-se de uma menina que foi órfã de pai aos 3 anos e de mãe aos 7 anos, tornando-se empregada doméstica, vestindo o hábito quando adulta, em Palma. Modelo de vida humilde, fervorosa fé e contactos com o Além foram os argumentos para a sua beatificação na primeira metade do século XX, apesar de ter vivido no século XVI. Seria sepultada na Capela de Santa Maria Madalena, em Palma de Maiorca.
A decoração festiva de um dos largos de Valldemossa |
Na capital – Palma – há muito para ver, a começar pela Catedral e pelo seu tesouro. Depois há museus, a Plaza Mayor e, porque não, os Banhos Árabes. Datados dos finais do século XI, princípios do seguinte, é possível ver, sem grandes adulterações, a primitiva câmara central destinada aos banhos quentes e as colunas que a cercam e sustentam a cúpula com clarabóias.
Faltou ver a parte Oriental da ilha, que ficará para próxima visita.